quarta-feira, 7 de maio de 2014

Chegando em Corning - 13/03/52

Corning, 13 de março de 1952.

Minha querida Ilza;


Depois de minha última carta de N.Y., que fora escrita à noite, fomos dormir, fatigados por ter percorrido algumas ruas da cidade. 

Harlen, 1952 (© The Gordon Parks Foundation)
Entretanto, à partir de meia noite, aliás como avisava o rádio, começou uma tempestade de chuva e frio com velocidade espantosa. A janela do meu quarto batia constantemente, o mesmo acontecendo com as dos andares de baixo. 

Não podia dormir, e assim, quando deixamos o hotel, às 9,30 hs. para tomar o trem para Corning, o vento fazia coisas engraçadas nas ruas; da janela do nosso quarto, podíamos observar, o povo, mulheres e homens, lutando conta a chuva e o vento



A nota pitoresca foi a seguinte:
©Disney - Mary Poppins
Várias mulheres e homens tiveram os seus guarda-chuvas e sombrinhas virados do avesso pelo vento; o pano das sombrinhas era rasgado, o mesmo acontecendo com alguns guarda-chuvas; durante alguns minutos de observação, contamos, pelo menos 10 sombrinhas destruídas, e o mais interessante ainda era que, tão logo a sombrinha era rasgada pelo vento, a mulher lançava fora, num dos grandes cestos de ferro que se vêm em cada esquina de N.Y.

Ninguém se incomodava ou dava valor à sombrinha ou guarda-chuva. Aliás, vê-se muito poucos guarda-chuvas aqui. O frio era então intenso, mais agravado pelo vento cortante.

Tomamos o trem elétrico, que é realmente uma maravilha de conforto, limpeza e rapidez.


Ao sair de N.Y., à medida que passávamos pelos campos e pequenas cidades suburbanas, chamou-nos a atenção umas manchas esparsas nos campos queimados; manchas brancas, separadas, que a princípio pensávamos que fosse qualquer tipo de terreno, de areia, ou condição peculiar do local. Mas, como, à medida que o trem entrava pelo Estado de N.Y. e Pennsilvania, essas manchas aumentassem de tamanho e sempre brancas, descobrimos, com surpresa, que era o resto das últimas neves de inverno. Vimos então neve pela primeira vez, daí por diante até Corning, em cujos morros vizinhos ainda existe bastante. 


Aspecto da região do Estado de NY conhecida como Finger Lakes
Passamos por cidades pequenas, e não víamos viva alma nas ruas, nem na estação, como é tão comum nas estações do interior. Parecia que atravessamos cidades abandonadas. Havia neve ainda nos morros próximos e como chuviscava ligeiramente, o povo vive recolhido, aquecidos, e só se vêem automóveis, ou por outra, o povo só sai à rua de automóvel.

Corning, onde fomos recebidos pelo dr. Hicks e um ajudante, é uma cidade pequena mas muito bem organizada, limpa, com todo o conforto, com boas lojas, bares e restaurantes, e cinemas, o que vai muito bem para um homem como eu que não aprecia noitadas alegres.


Cartão Postal de 03/07/1948 que achei na cardcow.com, não é do vô
O Hotel, que é o melhor da cidade, prima pela limpeza e conforto, aliás a limpeza, a exagerada limpeza, ordem e asseio aqui neste país, parece ser hábito. É surpreendente como o copo, por exemplo, do hotel, é esterilizado, isto é, envolto em papel esterilizado, com a recomendação impressa de que foi esterilizado. 


"Água quente e fria,
em abundância, 
tanto no chuveiro 
(que é magnífico) 
como nas pias."




Bem, levaria um tempão se fosse contar essas particularidades da vida americana.


(Continua...)

Um comentário:

  1. Demais essa carta com toda essa riqueza de detalhes! Parece pagina arrancada de algum livro! hehehe

    e eu apenas AMEI a "ilustração" do post com as fotos e gifs! tá o maximo! hahahaha

    congrats Mr. Jancowski, pelo blog!

    ;)

    ResponderExcluir